é tu memo (quer dizer, acho que só eu queria que fosse)

dia desses saí sozinha de novo, dei um mergulho tão gostoso no mar... queria que você tivesse lá comigo. Quando saí da água e sentei na areia, você tinha me mandado uma mensagem falando sobre música ou alguma banda qualquer. Eu dei um sorriso, me parecia um sinal. Eu queria que fosse um sinal.

quando a gente se viu pela primeira vez, era seu aniversário e eu nem sabia. Não demorou 10 segundos pra você descobrir que eu estava ali sozinha. Você pareceu meio surpreso e não demorou 10 segundos pra você me convidar pra te acompanhar no próximo show. Acho que foi ali que eu me perdi, agora eu passava os dias esperando sua companhia.

na segunda vez que a gente se viu, eu te pedi um beijo. Você me deu vários. Eu te quis mais. Nunca se tem o suficiente do seu beijo favorito. Ouvi isso em um filme. A personagem falava sobre tic tacs de laranja, mas acho que está tudo bem se eu falar sobre você.

a gente se encontrou uma terceira vez e eu pedi uma bebida que o moço do bar entregou pra você em vez de trazer pra mim. Você me olhou nos olhos e disse: "olha como as coisas são, elas não deveriam ser assim". Naquela noite, a nossa revolução foi feita com amor. Your lips, my lips: apocalypse.

no caminho de casa, meu pensamento tava longe e meu coração já tava procurando outro lar. 

- Boa noite, você disse.

- Boa noite, eu disse.

e depois você não disse mais nada. O dia seguinte não existiu, nem o próximo, nem os outros que deveriam chegar. 

- Não dá pra ser., você disse.

- Eu entendo., eu disse.

- Eu senti sua falta., eu queria ter dito.

mas eu realmente entendo, então foi melhor não dizer nada. Dessa vez, o dia seguinte fez questão de existir, incluindo o próximo e todos os outros que poderiam não chegar. Eu continuei sentindo sua falta. Eu continuei não falando sobre isso. Aliás, eu continuei não falando nada.

um tempo depois, vi na internet que você tava na rua. Eu tava no caminho. A nossa distância era de uma caipirinha de morango e uma mensagem.

- A gente tá perto. Vamos encontrar?, eu disse.

A mensagem foi visualizada e você não disse nada.

a caipirinha acabou.

- Vamos!, você disse.

ainda bem que você me beijou. Ainda bem que você me beijou. Naquele dia, a gente tinha começado uma revolução nas urnas. Lula presidente! E naquela noite, a gente fez revolução com amor. Cê lembra?

- Sim, a gente é um casal. Você respondeu.

aquela madrugada foi um carnaval: ruas lotadas, calor, música, suor, abraços, felicidade. Era uma noite linda de lua, como um dia lindo de sol. Você ainda me beijava. E a gente se beijou muito. Your lips, my lips: apocalypse.

- E se a gente deitasse?, eu perguntei enquanto a gente tava ali no meio da multidão - já imaginando qual seria a sua resposta.

- Vamos, você disse.

eu sabia que tinha perguntado pra pessoa certa.

olhei pra cima, vi o céu - por um segundo, meu coração se acalmou. Daí eu olhei pro lado, vi você - e eu já não sabia mais nada sobre o tempo. Eu já tinha desistido de entender qualquer coisa.

e foi aí que entendi. Quer dizer, eu acho que entendi. Cê lembra?

quando a gente tava deitado na avenida vendo o carnaval passar e a cidade se avermelhar. 

quando você me segurava as mãos enquanto a gente caminhava pelas ruas da cidade.

quando vc me abraçou e confessou algumas mágoas.

quando se permitiu ser lágrima.

quando, sob as luzes acesas na madrugada, você me fazia dia. 

quando, sob a luz da lua, você me fazia noite.

quando, no meio da avenida, você me fazia inteira canto.

- Me beija.

Me abraça pelo espaço de um instante, a gente cantava.
Me abraça pelo espaço de um instante, a gente gritava. 
Me abraça pelo espaço de um instante, e a gente se abraçava. 

- Boa noite, você disse.

- Boa noite, eu disse.

- Eu queria poder te ver de novo., eu deveria ter dito.

mais um beijo.
só mais um.

se os sentimentos pudessem ser traduzidos em palavras, você também entenderia. Eu acho. A forma que existimos naquele dia me parecia um sinal. A forma que nossos corpos se conectaram naquela noite me parecia um sinal.  Quer dizer, eu queria que fosse um sinal.

outro dia te mandei uma mensagem. 

- Como você está?, eu perguntei.

- Quer me ver hoje?, eu deveria ter perguntado.

essa semana a seleção joga na copa. Se você me convidasse, eu juro que recusaria todos os outros convites que não recebi.

- Ouvi essa música e lembrei de você., eu disse.

é que eu sinto sua falta e não sei se deveria dizer.

hoje a gente se viu.

quer dizer, eu com certeza te vi.
eu gosto de te olhar.

e eu te quis.
eu gosto de te querer.

uma garota disse alguma coisa sobre eu ser sua namorada.

- ...ou "sei lá o que vocês são"., completou.

imagina!? Eu sendo sua... 
(será que eu desaprendi a disfarçar?)

dessa vez você não disse nada, e foi aí que eu ouvi.

talvez tenha sido no abraço,
aquele que provavelmente foi o último.

talvez tenha sido o olhar que antecedeu o abraço,
aquele que me disse que era uma despedida.

talvez tenha sido tu.
tu e o nó que cê deixou na minha garganta.

talvez não tenha sido.

dessa vez teve borboletas,
teve aquela dor no mindinho
e teve dor no corpo todo.

aí eu entendi.

- Vamos sair mais vezes., você disse, meio sem jeito.
- Vamos., eu disse, sabendo que isso não ia acontecer.

- Cheguei., você disse. 
- Também cheguei., eu disse.

- Boa noite, você disse.
- Boa noite, eu disse.

espero que pelo menos você tenha mesmo dormido bem.

a gente se encontrou mais algumas vezes. Apesar do afeto, parecia haver um abismo entre nós dois. 

parece que foi ontem aquele nosso último show. Eu e você, sentados no sofá, esperando a noite começar.

Coisas que você só vê quando desacelera, a gente cantava.
Coisas que você só vê quando desacelera, eu sentia.

você me abraçou e eu te pedi um beijo. Na verdade, era uma súplica. Your lips, my lips: apocalypse. Você sorriu, como se fosse um sim, mas negou, como se fosse óbvio.

aí eu entendi. De novo.

- Olha pra mim., eu disse.

você olhou, meio fugindo e dando um gole na sua cerveja. Mas olhou.

- Fala., você disse.

meus olhos avermelhados, cansados e cheios de água tentavam te contar sobre o meu coração medroso, esperançoso e confuso. 

- Você sente algo por mim?, eu perguntei.

que tola.

perdi a conta de quantas vezes você sentiu necessidade de me dizer não.
 
- Não, não sinto. Não sinto nada., e você ainda insistia em repetir e se explicar.

e eu já não queria ouvir mais nada.

cada explicação era mais um nó na garganta, mais uma lágrima presa, um sorriso falso e um tiro no peito.

message received.

- Não se esquece, você não tá sozinha., você escreveu.

o caminho de volta pra casa foi cheio de dor no mindinho, passos lentos e choro engasgado. Sim, eu já entendi que você não sente nada.

mas vai ficar tudo bem.

quer dizer, eu quero que fique.

Fica?

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