Saudade, frio, chuva e você. Sempre termina com você...

Ana acordou de madrugada com o barulho da chuva. Estava alto e forte. Enquanto ouvia o barulho da água batendo forte nos telhados, se deu conta de que havia música. Esqueceu o computador ligado e John Mayer ainda estava tocando para ela. John Mayer. John Mayer...
Ouvir John Mayer a trazia lembranças. Desta vez, trouxe saudades. Por alguns instantes, Ana se perdeu nessa saudade. Lembrou de velhos amores, lembrou de alguns momentos, de sorrisos e de olhares...
Ana se afogou nesse mar de lembranças e, quando menos esperava, voltou a si. Se deu conta que a chuva ainda estava ali, batendo em sua porta. Essa chuva parece nunca passar... há dias não para de chover. Essa chuva traz frio.
Os dias tem sido frios para Ana, que sente tudo isso à flor da pele. Ela se sente sozinha e sente falta de um abraço. Do abraço de Beto, talvez. É, de Beto, aquela paixão antiga. Ana, mais uma vez, podia jurar que não sentia mais nada, que não havia apego.
Estava indo tudo tão bem, até que ela se viu sentindo ciúmes. Sentimento novo. Ana nunca sente isso. Talvez agora tenha percebido que perdeu Beto de verdade, aí então, aumentou a saudade. E ela ainda sente frio...
E sente falta. Falta daquele sorriso tímido e da forma que ele olhava para ela. Sente falta daquele abraço cheio de vergonha. Sentia falta de ver Beto com fome na madrugada.
Ana sentia falta de ver Beto evitando ou tampando o bocejo. Beto bocejava muito. E Ana amava sua cara de sono. Sentia falta de vê-lo tocar seu violão.
Sentia falta de ouvir a voz de Beto, ao cantar. Sentia falta de ouvir a voz de Beto, ao ligar. Não era a voz mais linda, mas era a mais doce. Ana sentia paz.
Talvez agora Beto esteja tocando para outra garota. Talvez escreva para ela. Talvez faça uma ligação surpresa no meio da madrugada, só pra desejar boa noite.
Eles sempre se desejavam boa noite. As vezes, Ana ainda consegue ouvir a voz de Beto desejando que ela durma bem e que sonhe com os dois, sempre juntos.
Ou talvez ele faça uma ligação pela manhã. Talvez às seis da matina, na tentativa de ser chato e acabar sendo super fofo. Ou talvez ligue qualquer hora, só para dizer que sente saudades.
Ou só pra falar bobagens, contar como foi o dia.
Só pra ouvir a voz de Ana mais uma vez. Pra dizer que gosta mais dela do que de bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Ou pra contar como seria legal se eles pudessem dividir um açaí.  Tudo bem. Não faz mal ligar sem ter um motivo.
Ah! Ana sentia tanta falta de tudo isso.
Tão tola esperava que Beto ainda pudesse sentir falta. É, pode ser que ele também sinta falta.
Ou talvez não. Talvez ele já tenha se encontrado em outro sorriso.
Escorreu uma lágrima nos olhos de Ana. Se deitou na cama e abraçou o travesseiro, desejando que Beto estivesse ali.
Mas o que ainda havia, era só a chuva que insistia em bater em sua porta; e o frio entrava desgovernado por cada cantinho que encontrava.
Nessa noite, Ana não estava muito bem. Chovia fora. Chovia dentro.
Foi aí que Ana decidiu ir dormir.
Suspirando, Ana abraçou forte seu travesseiro e fez seu último desejo de boa noite.
Beto precisa saber que ela sempre vai estar lá com ele, abraçada, mantendo a promessa de que não vai deixar que algum bicho papão entre pela porta e tente machucá-lo.
Ele pode dormir sossegado porque ela ainda vai estar lá, talvez fazendo um cafuné...
Ana só espera que Beto ainda consiga sentir cada desejo de boa noite, e que ela... bom, e que ela consiga dormir.

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