Um, dois, três e... vai!

Nina devia ser menos reclamona. Mas é isso aí, você sabe, não consegue.
Fica fazendo "doce", mas sabe que no fim sempre se abre com você. 
Ela gosta mesmo de pegar um lápis e um caderno pra escrever. Mesmo se for as mesmas coisas de sempre. Tudo bem, dessa vez ela tenta começar uma nova história...

Não é sobre ele, nem sobre aquele outro. Nem sobre as coisas que a incomodam.
É tudo sobre ela.

Nina tem estado bem inquieta há dias. Sei que nunca teve muita concentração, mas agora tem estado pior. Acredite: sempre tem como piorar. 
Sabe aquela história de "o mundo dá voltas"? Pois é. É só esperar e as coisas vão melhorar. Mas fica tranquilo, é um sinal de que você ainda volta pra esse mesmo estado deprimente. Relaxa. Pessimista? Nina diria realista. É o que ela, infelizmente, tem sido.

É, aqueles dias. Por mais que durma, sempre está com sono. O corpo pede pra deitar e acaba dormindo... ela tem sonhado bastante.
Nina está sentindo falta disso.

É que antes ela sonhava acordada. Agora só sonha dormindo.
Nina está sentindo falta. De ser ela.
É como se não tivesse tempo pra sonhar acordada. Sempre que começa a viajar e se aventurar, algo faz com que ela volte pra realidade. E então se lembra que tem tantas outras coisas pra fazer: estudar, arrumar casa, resolver assuntos alheios, ser simpática.

Hoje Nina fugiu de tudo e foi ver um filme. E com uma cena, esse filme a fez entender tudo que se passava dentro dela. Disponibilizo aqui, caro leitor, o trecho:

‎"- Quando escreveu pela última vez?
- Eu não consigo escrever.
- Claro que pode. Essa é a sua vantagem sobre qualquer outro idiota com o coração partido. Você pode escrever sobre isso.
- Quem ia querer ler?
- Muita gente. Porque não? É uma grande história!
- Todos vão pensar que sou louco.
- Não. Vão pensar que é uma ficção." 


Os olhos de Nina brilharam. Ultimamente ela, apesar de chorona, não tem chorado muito, mas eu podia jurar que vi uma lágrima escorrendo. Cada fio de cabelo se arrepiou. Parece simples, bobo; mas ela sente falta de escrever. Sente falta de se expressar. 
Nina não tem se expressado muito. Fala, fala, fala. Mas não se expressa. Ela gosta de rir e chorar. De sentir dor e cosquinha. 
É que ela gosta de sentir. É isso que dá a certeza de ela estar viva de verdade.

Parece que todo filme tem uma história pra ela. Ou dentro dela tem todas as histórias do mundo. Sonha com todas elas, quer viver todas elas. Se vê dentro de cada romance e de cada aventura.
Coincidência, talvez. Eu prefiro chamar de mágica.

Nina pensa que não sabe mais como escrever.
Ela sabe o beabá. Foi alfabetizada, isso ela só repete. Mas sem perceber se perdeu com todas as obrigações e está se atropelando. E no fundo ela só queria voltar a criar...
Sente falta do intuitivo.

Dia desses conversei com Nina e ela me disse que quando tenta escrever parece que as palavras estão repetidas. Não vem mais nada. Como escrever? O que escrever? Não sabe mais. E aí o coração se parte. Ela se sente presa. Só quer se expressar. Sem medo de ser infantil ou clichê. Precisa tirar de dentro tudo o que já passou da hora de sair. Precisa dar espaço pro novo. Sem medo.
Ela (ainda) não (se) mostra, mas eu vi que ela tem tentado se expressar. Apesar de toda essa reviravolta, no fundo eu sei que aquela criança ainda vive dentro dela. 

Basta observar e vai ver: as asas estão machucadas, mas ainda estão lá. Só mais alguns dias e ela se renova pro próximo vôo.
Eu sei que "de olhar sonhador ela fala de sonhos, ela crê no amor."

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