A história dos meus últimos dois anos é a construção da história que começa a partir de agora.

Este talvez seja um texto chato. Se não tiver paciência pra ler, já pode ir parando por aqui. Mas já que começou, porque não continuar? Desista de desistir. Desistir é uma palavra muito forte. No meu caso, eu diria recomeçar. E se estiver mesmo à fim de ler, te dou as boas-vindas à (um pedaço da) minha vida. Essa é a história dos meus últimos dois anos, e é a construção da história que começa a partir de agora.

Eu diria que estou cheia de medo. Eu diria que estou muito feliz.

É meio clichê falar isso depois de velha, parece coisa de tia puxa-saco. Mas sim, desde criança tenho grande interesse na área da cultura. Em todos os aspectos. Desde criança fazia demonstrações gratuitas e espontâneas de alguém que gosta mesmo de se envolver com pessoas, com arte e afins.

Sempre cheia de incertezas, nunca fui muito boa em tomar decisões, escolher favoritos etc. Mas sempre soube de uma coisa: um dia faria uma faculdade. Ficava na dúvida entre Jornalismo ou Publicidade. Dos poucos cursos que eu conhecia e já tinha ouvido falar, esses eram os que chegavam mais perto do que eu imaginava de mim no futuro. Hoje tenho vinte anos. Há alguns anos, quando eu tinha uns catorze, quase quinze, meu irmão havia saído de casa pra fazer faculdade. Isso mudou minha vida. Pouco tempo depois, minha irmã também saiu de casa, isso também mudou minha vida. Durante o tempo de escolha dos dois em relação ao curso, pude ter acesso à esse universo do vestibular, e comecei a conhecer outras opções de curso. E foi nesse tempo de ensino médio e vestibular dos meus irmãos, que eu, ainda com uns catorze, quinze anos, conheci o curso de Cinema e Audiovisual. Isso mudou a minha vida.

Desde então, nunca mais pensei fazer outra coisa.

Mas fiz. 

Aos dezessete anos, chegou o meu vestibular e eu passei pra Cinema em lugares que eu não estava tão à fim de ir, mas me matriculei assim mesmo. Tudo bem que eu queria a UFF (Universidade Federal Fluminense) e não consegui (e perdi muita coisa por isso também), mas acabei deixando pra lá e aceitei a ideia de ir pra outro lugar, afinal o que importava é que eu iria fazer o curso dos meus sonhos. Dezoito anos, 2012, e a faculdade estava em greve. As aulas só começariam em outubro e eu teria de ficar em casa sem fazer nada por seis meses. Foram seis meses muito bons, tive experiências no teatro, na tevê, na produção. Conheci muita gente interessante que estaria prestes a trilhar um caminho bem parecido com o meu. Comecei minha rede de contatos e ganhei grandes amigos. Seis meses se passaram e, de curiosa, me inscrevi no vestibular de inverno. Descobri o curso de Produção Cultural na UFF, a universidade que eu queria, mas não o curso. Fui olhar o que eu estudaria, e gostei. Resolvi arriscar e adivinhem só: não só passei pro curso, mas realmente me encontrei nele. Me descobri, me desfiz, me reinventei e percebi que esse curso era fantástico e eu poderia absorver muita coisa.

Vinte anos, 2014. Diversas atividades exercidas, mais experiência pro currículo e descubro que aquele velho desejo de fazer Cinema ainda estava muito vivo dentro de mim. É, eu aprendi que sonhos não envelhecem.

Por algum motivo o universo resolveu conspirar a meu favor, e eu recebi a notícia que eu havia sido uma das convocadas pra cursar Cinema e Audiovisual. Onde? Na UFF. Assumo que meu coração ficou apertado e eu estive pensando muito sobre o que fazer. Não queria abandonar dois anos de curso de Produção Cultural, e mais: não queria abandonar as atividades que eu já havia me responsabilizado a fazer, como por exemplo o projeto de extensão, que entrará em prática agora; a monitoria com um professor que sempre foi um amigo sensacional; o centro acadêmico, afinal agora é que conseguimos nos estabilizar um pouco mais e eu me sinto na obrigação de estar sempre ali pra ajudar; enfim.
Não que eu seja a pessoa que super vai fazer falta, mas sou menos uma mão pra trabalhar. E isso me pesou bastante pra tomar a decisão. Mas apesar de tudo, eu tenho a certeza que meus professores que admiro tanto, entendem muito mais que eu sobre essa ideia de "investir em sua formação". É o que sempre me ensinaram, e é algo que me entrego de corpo e alma pra conseguir. Acredito na educação, e corro atrás disso. Se assim não fosse, não faria sentido estar aqui. 

A questão é que depois de tanto pensar e conversar com meus familiares, cheguei a conclusão de que eu precisava fazer isso. Era o que meu coração queria e pedia, esse sonho estava escondido aqui dentro e não conseguiu permanecer às escuras quando viu o resultado do vestibular falando "você foi aprovada". Essa é uma sensação muito gostosa, e dessa vez foi de enlouquecer! rs. Quando vi esse resultado, lembrei de umas aulas em que estudei o Guattari (um cara genial, diga-se de passagem), e lembro que foi trabalhoso conseguir buscar coisas sobre ele, ler o que ele falava, e mais: entender de fato o que queria dizer. Uma das coisas que mais me marcou e ficou guardado, eu te falo agora: somos máquinas-desejantes. Talvez eu ainda nem entenda, e sei que o que vou falar agora pode estar errado. Mas existem interpretações e vou contar a minha. Eu tive sede e ainda tenho. Algo em mim me motivou a me inscrever no SiSU, algo em mim me fez marcar a opção da lista de espera, e algo em mim me fez ir até o site da UFF e conferir a chamada que saiu com antecedência. Aí está a máquina-desejante. Um impulso, algumas pulsões, emoções, motivações, vontades. E sim, lá estava meu nome. E foi aí que eu voltei a ter catorze anos, voltei a me sentir uma garotinha que acabava de descobrir o que queria pra vida. Um dia um amigo me disse "nunca se traia!". E foi o que eu fiz. Às vezes a gente tem que arriscar e se permitir.

O que eu preciso dizer é que só tenho mesmo a agradecer a todos os que conheci nessa caminhada. Não consigo achar palavras pra descrever realmente como foi tudo que aprendi nesses dois anos, me sinto outra pessoa. Uma pessoa que mudou muito e que ainda tem muito o que mudar. Mas uma pessoa que se sente alguém no mundo, que se sente capaz de correr atrás do que sonha, que percebeu que pra acontecer, basta querer fazer. Tenho meus professores e amigos como fonte de motivação. Fazem parte da minha construção não só profissional, mas também pessoal. 

Sei que vou receber todos os julgamentos do mundo. Positivos e negativos. A maior parte negativos, eu sei. Inclusive, muitos vindos de mim mesma já aconteceram. Mas é bom, daí terei certeza de que a decisão a tomar é a certa. Mas se não for, a gente tenta de novo. E de novo, e de novo. E tentar não é brincar. Não me julgue pela personalidade estranha que tenho. É só que gosto de tudo. Consigo ver a beleza em cada canto, em cada coisa que existe no mundo. É só saber olhar. Gosto de um, gosto do outro. Quero os dois. Nunca tive favoritos. Nem cor, nem música, ou banda, ou filme, nem mesmo diretor. É tudo tão relativo, não dá pra ser exato quando falamos de gostos (que falam de momentos, de fases, de maneiras de observar). De qualquer forma, estou certa de que quero tentar, e eu preciso me permitir. Eu preciso me deixar sentir como é estar do lado de cá. Eu preciso ter esse sonho realizado, mesmo que depois ele seja modificado e, a partir dele, eu comece a trilhar outros caminhos. Não importa. Sei que isso faz parte de mim, do que penso, do que desejo, do que me faz humana, do que me torna máquina-desejante. Algum impulso me fez tentar, me fez insistir (mesmo sem pretensões /ou não). Se ao olhar o resultado meu coração disparou, a lágrima escorreu e eu me vi com 14 anos quando comecei a sonhar com isso, então vai valer a pena.

É tudo sobre acalmar o coração. Aquietar. Suspirar. É sobre mudança.
Tiras as coisas do lugar pra ter o prazer de arrumar. Pra fazer a ordem a partir do caos. Assim como a criação do universo, também a construção da minha vida. A ordem é o caos. O caos é a ordem. Paradoxos,  antíteses, figuras de linguagem, todas as linguagens incorporadas no ser. E que seja assim.

Esta foi a breve história dos meus últimos dois anos e é o início da construção da história que começa a partir de agora.

 Ao infinito e além!
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UFF - Ficha de Inscrição em Disciplinas - Cinema e Audiovisual


Fluxograma do Curso de Cinema e Audiovisual - Bacharel

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