dançando na chuva

nasceu do amor
do afeto,
e sem medo

cresceu querendo criar asas
e criou
descobriu que pra voar
só precisava ficar na ponta dos pés

os mesmos pés que foram cortados
juntos com suas asas
e seus sonhos

todos os dias ela tenta
abrir os olhos
mas acordar é imergir em pesadelos

ela chegou tão alto
que foi mais alto que o topo daquele pé de abacate no quintal
quando ela plantou, não imaginou que cresceria tanto
mas cresceu
das suas próprias mãos

o tempo alimentou a raiz
que nutriu todo o corpo
e quando a chuva chegou,
forte,
se assustou
mas com os próprios olhos viu
que tudo que move é sagrado

no campo,
o que é verde sempre foi bom
e tudo que é bom
dizem ser ruim pra você

mas aquele céu é dela
as estrelas são dela
a lua é dela
e é dela tudo mais que ela quiser

porque, do amor, nasceu
mas foi por medo que viveu
e sobreviveu

quando suas lágrimas se fazem ninho
ela se re-conhece
e percebe
que todo amor é sagrado
e no próximo fôlego
se sente viva,
e aprende a andar de novo

no espelho eu grito
porque percebo que ela sou eu
mas não consigo me lembrar
quando foi que trocamos de lugar

mas quando tudo acabar
ela saberá seu caminho
e vai saber me diz pra onde ir

quem sabe até no próximo ano
quem sabe na próxima estação
quem sabe amanhã

mas se tudo acabar hoje
diz pra minha mãe que deu tudo certo
e a culpa não é dela
a culpa é da chuva que me arrebatou
e me impediu de correr

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