tempestade

tá chovendo dentro do meu quarto,
em cima da minha cama,
do meu travesseiro.

o barulho da chuva lá fora é tão alto que não me deixa dormir, é o que tento me convencer,
mas na verdade a goteira no teto em cima da minha cabeça é que não me deixa em paz.

o barulho da chuva aqui dentro é tão inconsistente que parece que as gotas da chuva resolveram brincar de pique-pega com meus pensamentos.

parece que o meu quarto foi invadido por uma criança que tá apostando corrida com a minha mente e não existe destino, ponto de chegada, apenas círculos infinitos desenhados no chão que não levam a lugar algum.

mudei de posição, me virei
de cabeça pra baixo
e o mesmo teto ainda está bem aqui acima dos meus olhos
e a mesma goteira ainda está bem aqui, trazendo água pra minha cama que deveria estar seca
e a mesma água da chuva que vem lá de fora, ainda está aqui, bem aqui, 
e a mesma água que me tira o sono e me bagunça o pensamento, é a mesma água que molha os meus pés.

e assim,
de cabeça pra baixo,
de ponta cabeça,
talvez a chuva esteja tentando vir me regar pra ver se eu acordo,
pra ver se eu lavo o rosto,
pra ver se eu lavo a alma,
pra ver se eu deixo a água regar meus pés,
pra ver se eu me deixo florescer 
pra ver se eu crio raiz, 

raiz...
não pra ficar presa nesse pedacinho de (col)chão,
mas pra estar na terra, 
me movimentar feito água
e me lembrar que minha casa é pra onde vão meus pés

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